sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Sobre algumas das justificativas ruins sendo usadas para votar ou não em Bolsonaro ou Lula em 2022



Olá a todos!

Há alguns anos atrás, eu publiquei um pequeno ensaio comentando sobre a lamentável falta de qualidade de alguns argumentos favoráveis ao voto em Dilma Rousseff nas eleições de 2014. Sem surpresa, as campanhas eleitorais deste ano nem tinham começado e eu já estava vendo um bom número de justificativas ruins para votar ou não nos principais candidatos do momento: Bolsonaro e Lula.

Visando fazer alguma contribuição na direção de diminuir esse problema, escrevi o presente ensaio para auxiliar os leitores a entenderem o porquê alguns dos argumentos sendo apresentados são ruins. Em alguns casos, aproveito para dar algumas sugestões de como uma avaliação melhor poderia ser feita.

Como esse assunto ainda está em andamento, é provável que este trabalho sofra alterações até o fim das eleições. Para ouvi-lo, há uma versão em áudio lida por mim que pode ser acessada clicando aqui.

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Nos processos eleitorais, os cidadãos envolvidos precisam fazer uma escolha sobre qual será o governo que conduzirá a sua nação, estado ou prefeitura nos anos seguintes. Neste contexto, é normal que alguns argumentos sejam apresentados pra justificar o voto pessoal em alguma das opções disponíveis. Porém, como costuma acontecer em qualquer outra situação, nem sempre estes argumentos são tão bons quanto seus defensores acreditam.

Mas o que consiste num argumento ruim? O que faz ele não ser bom? De modo geral, é plausível pensar que qualquer um que apele pra afirmações falsas se enquadre na categoria, porém pode ser um pouco mais complexo do que isso: "meias verdades", inferências logicamente inválidas ou considerações irrelevantes (o que filósofos chamam de ignoratio elenchi) também podem tornar uma justificativa aparentemente convincente numa razão ruim pra respaldar uma conclusão.

Embora há várias maneiras de falhar, podemos distinguir entre aqueles argumentos que são meramente ruins daqueles que são péssimos. Enquanto que o primeiro pode conter um erro que é mais compreensível (talvez porque não contempla uma informação importante difícil de se conseguir, ou porque se baseia sobre uma inverdade muito acreditada, ou porque o assunto é avançado e erros acabam sendo normais e até esperados, ou ainda por outras razões), o segundo tende a ser bem menos aceitável, por vezes tornando seus defensores dignos de críticas por aparente "preguiça de pensar". Estes argumentos ruins estão normalmente associados a alguma falha evidente de percepção, a alguma afirmação evidentemente falsa ou levantam questões que não são nem um pouco relevantes para a situação em questão (um exemplo aqui seria escolher um candidato por achá-lo bonito).

Com isso em mente, segue alguns dos piores argumentos que testemunhei nos últimos meses sendo usados pra justificar voto ou não nos dois candidatos com maiores chances de vencer as eleições deste ano: Jair Bolsonaro e Lula.

Jair Bolsonaro: Favoráveis

1) Ele me deu auxílio emergencial de R$600 quando eu precisava durante a pandemia e agora mais um tanto com a PEC das Bondades

Um fenômeno já notado é o aumento da popularidade e intenção de voto em algum candidato à reeleição após ele conceder algum "pacote de bondades", uma medida beneficente com os ares de "dinheiro de graça". Assim, logo após o governo federal ter começado a repassar o auxílio emergencial durante a recente pandemia, pesquisas indicaram aumento da popularidade de Jair Bolsonaro. Não à toa, tendo várias pesquisas apontado a derrocada eleitoral do presidente, recentemente o governo conseguiu aprovar a "PEC Kamikaze" que concede mais benefícios à população num ato que tem marcas de ser mais eleitoral do que altruísta (convenhamos, não é como se Bolsonaro fosse conhecido por ser amoroso).

Tendo isso em vista, onde está o erro? Primeiro, está no fato de que não há nada de especial em ele ter feito isso: a julgar o histórico brasileiro e também o apoio quase irrestrito dos diversos partidos no Congresso, incluindo do PT, é perfeitamente plausível supor que quase qualquer outro governo que tivesse sido eleito estaria a fazer a mesma coisa neste momento. Ou seja, não faz sentido vincular esse dinheiro a Bolsonaro como que pensando: "como ele me deu esse dinheiro, vou votar nele porque ele é bom pra mim e os outros, não".

Afora isso, há também a já mencionada presença de traços eleitoreiros em tal medida. Se essa foi mesma a intenção, votar nele por ter ganho o auxílio é praticamente equivalente a "cair na armadilha", não exatamente sinônimo de esperteza ou de uma pessoa fazendo um voto direcionado a um candidato decente.

Por fim, lembro que a proposta original de auxílio do governo enviada ao Congresso era de R$200; os demais R$400,00 foram acrescidos por este e de forma contrária à vontade daquele. Assim, na melhor das hipóteses, Bolsonaro teria crédito por no máximo 1/3 desse benefício.

2) Ele é honesto

Alguns justificam seu voto apontando para uma suposta honestidade em Bolsonaro. Esse atributo pode ser definido de mais de uma forma, mas parece que o sentido mais usado é como um oposto à hipocrisia: uma pessoa assim não se mostra com uma fachada, mas revela publicamente como é, ou seja: alguém verdadeiro, que não dissimula, engana, trapaceia, e portanto confiável, leal, sincero. Sendo tudo isso uma virtude, diz o argumento que seria bom votar no presidente por ele possuir essa característica.

Agora avaliemos primeiro supondo que Bolsonaro seja realmente assim. Aparentemente, mesmo que esse fosse o caso, tal argumento seria ruim simplesmente porque honestidade só é uma qualidade relevante tudo o mais igual, ou seja: se a pessoa for genericamente boa no resto, então honestidade se somará a isso, porém, se não for esse o caso, de pouco ou nada adiantará ser assim. Para exemplificar, peguemos o clássico "vender a alma pro diabo": se Lúcifer se aproximasse de alguém propondo "fama, poder e grana" em troca de sua alma, porém logo lhe notificando que as bonanças durariam pouco tempo e, em seguida, o mesmo morreria dolorosamente e passaria sua eternidade no inferno, teríamos aqui um sujeito sendo honesto. Ora, isso significa que Lúcifer seria bom ou que sua proposta passou a ser boa simplesmente porque ele foi verdadeiro? Naturalmente que não: um demônio honesto continua sendo um demônio e uma proposta ruim apresentada honestamente continua sendo uma proposta ruim. Ou seja: mesmo que Bolsonaro não seja um enganador ou trapaceiro, isso não significa que ele seja uma pessoa boa que fará coisas boas com um governo bom cheio de propostas boas. Pelo contrário: ele pode ser verdadeiro em toda a sua ruindade tal qual um demônio honesto. Com isso em mente, podemos concluir que essa virtude importa pouco a um candidato político, antes, é melhor que se tenha uma pessoa genericamente correta com boas propostas, porém eventualmente "duas caras", do que alguém todo errado e cheio de propostas ruins, porém honesto. Afinal, não é a honestidade de um político que determina se ele vai ajudar ou prejudicar uma nação, mas os seus atos quando no poder (talvez uma forma prática pra um bolsonarista visualizar essa situação seria se perguntando quanto ao que é melhor: um socialista verdadeiro ou um capitalista insincero).

Portanto podemos concluir que honestidade é boa e desejável, porém está longe de ser uma característica prioritária a um político. Mesmo que o presidente seja assim, isso não terá quase nenhum valor se ele for uma pessoa ruim com uma proposta de governo equivalente. Mas será mesmo que Bolsonaro é verdadeiro e doravante confiável ou leal? Mas é claro que não! Como notado em outro texto, seu atual governo foi sistemicamente marcado por ter divergido de sua propaganda eleitoral em 2018, ou seja, o presidente prometeu governar de um jeito (bom) e acabou governando de outro (ruim). Ou seja: se há uma coisa que Bolsonaro não é, é confiável ou leal. 

Consideremos alguns exemplos de diferenças entre fachada e realização:
  1. Postura favorável à Lava Jato: após eleito, não deu apoio algum a essa operação e ainda celebrou o seu fim (lembrando que o caso das "rachadinhas" que envolveu a sua família surgiu de um desdobramento da mesma);
  2. Luta contra a corrupção em geral: enfraqueceu o pacote de medidas contra a corrupção proposto pelo Ministério da Justiça sob Sérgio Moro;
  3. Criticou o "Mensalão" com o qual o PT gastou 101 milhões pra comprar voto de parlamentares: já gastou mais de 50 bilhões pra fazer o mesmo com o "Bolsolão"; 
  4. Redução de ministérios dos então 29 para em torno de 15 e sem indicações políticas: hoje temos 23 de facto e com ocupação política;
  5. Fim da reeleição: não só continua, como pretende se reeleger e já falava nisso já nos primeiros 4 meses de mandato;
  6. Fim do foro privilegiado: nada fez pra removê-lo, condição que atualmente beneficia filhos investigados na Justiça;
  7. O fim do "toma-lá-dá-cá": implementou especialmente após pedidos de impeachment começarem a acumular no Congresso;
  8. Acabar com indicações políticas, estabelecendo ministérios técnicos: removeu ministros da saúde que eram técnicos por terem-no contrariado e colocou quem nada tinha a ver com a área (Pazuello) em prol de se submeter à sua agenda. Também colocou outros ministros que tinham pouca ou nenhuma relação com os ministérios, como foi o caso da sequência do MEC. Também indicou Aras para PGR contrariando a lista tríplice apresentada pelos especialistas e que desde então tem o protegido.
Com tudo isso em mente, não vejo como seria plausível concluir que o presidente é honesto sem que se esteja completamente alienado dos noticiários ou fazendo uso de outra definição pro termo em questão. A conclusão aqui é que a afirmação não se aplica e, mesmo que se aplicasse, ainda assim estaria longe de ser uma boa razão para votar em Bolsonaro.

3) Eu sou cristão e ele é o candidato do Cristianismo: Deus, família, pátria!

Esse argumento é péssimo por ao menos três razões.

Inicialmente ter um candidato defensor ou representante do Cristianismo parece ser algo bom (soa a algo bom), ao menos olhando por uma ótica cristã (e esse argumento assume essa perspectiva, então é o ângulo sob o qual deve ser avaliado). Porém o que isso realmente significa? Esse tipo de comentário é ambíguo e, portanto, a menos que venha acompanhado de algum detalhamento, terá pouco valor. Por exemplo: está-se dizendo de um candidato que professa essa fé? Que vai a uma igreja? Que professa uma certa linha interpretativa dessa fé (por exemplo, conservadorismo)? Que pretende propor leis que estarão em linha com os seus ensinos? Que vive uma vida de acordo com os mandamentos dados por Jesus e seus apóstolos? Fazendo-se essas perguntas pode ficar mais claro de ver como ser um "candidato do Cristianismo" pode significar desde coisas relevantes e positivas para um cristão até completamente inúteis. Afinal, do que adianta alguém professar essa fé e viver de forma indiferente aos seus ensinamentos? Orar um Pai Nosso aqui e ali odiar metade de um país porque possui uma ideologia oposta e não lhe dá votos? Visitar uma Marcha pra Jesus e depois comprar votos no Congresso via "Bolsolão" para escapar de impeachment? Indo mais ao ponto: parece evidente que é melhor um ateu que faz a coisa certa do que alguém que professa uma fé boa e não a segue. Portanto, a primeira coisa a se questionar é "que Cristianismo é esse que há em Bolsonaro" e, com isso respondido, talvez se conclua que o que há nele tem pouca valia.

Segundo, falar em "Cristianismo" e seguir com "Deus, família e pátria" não soa bem. Normalmente quem professa esse "trilema" são conservadores cristãos, defensores de uma visão política que formalmente abraça essa fé sem que realmente seja assim (dizendo de outra forma: é uma interpretação e aplicação política que surgiu 1600 anos após Jesus e que se diz alinhada a essa religião sem que necessariamente esteja). Peguemos, por exemplo, a questão da "pátria", uma clara referência a patriotismo. Este valor está mais pra secular do que cristão: uma simples conferida no Novo Testamento, talvez especialmente em Romanos, já mostra que não há muito disso no Cristianismo, uma marca que ficou pra trás com o judaísmo da Antiga Aliança. Esta fé é caracteristicamente transcultural e transnacional pregando uma salvação que é para todos e uma perspectiva de irmandade global unida pela fé em amor, "um só corpo em Cristo". De fato, dificilmente dá pra se defender muito "patriotismo cristão" após ler passagens neo-testamentárias como Paulo em Colossenses 3
"(...) visto que vocês já se despiram do velho homem com suas práticas e se revestiram do novo, o qual está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. Nessa nova vida já não há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e está em todos." 
Algo similar acontece com o termo "família": claramente isso é algo bom e ensinado na Bíblia, mas quem no Brasil que se opõe a ela? Por que haveria justificativa de se votar em alguém por conta deste tema? Alguns falam em "defender a família", mas defender de quem? De quais ataques? Lendo alguns comentários, parece provável que este seja mais um caso clássico de slogan bonito usado para esconder algo ruim: seja homofobia, seja uma paranoia contra meia dúzia de pessoas que de alguma forma desejam o fim dessa instituição (como foi o caso de Marx). Ora, isso está longe de ser algo preocupante ou mesmo pertinente à fé cristã em ambos os casos. Comecemos pelo segundo item: haver meia dúzia de "antifamílias" por aí a anos-luz de terem poder suficiente pra agir contra essa instituição fortemente enraizada na sociedade brasileira está longe de ser uma prioridade; contanto que algum candidato ou partido não venha a explicitamente defender algo nesse sentido, votar em alguém ou deixar de fazê-lo por conta disso seria uma insensatez indigna da sabedoria de Provérbios e Eclesiastes (dizendo de outra forma, o erro aqui está em sobredimensionar o problema). Já quanto às perspectivas homofóbicas, não parece haver nada no Cristianismo que fundamente qualquer face de homofobia em contexto político: mesmo que se adote uma perspectiva contrária a relacionamento homossexual com base na ortodoxia teológica sobre o tema, não há nada na ética cristã que respalde impor essa perspectiva sobre a vida alheia; se há pecado em tal união, é problema dos envolvidos com Deus e que em nada diz respeito ao Estado ao menos até que envolvam terceiros (vítimas). Ou seja: o que parece haver aqui não é uma defesa de algum sagrado valor cristão, mas do direito de se meter na vida alheia e seus supostos problemas com Deus por intermédio do Estado.

Por fim, mesmo que tudo que disse até aqui estivesse errado, fica uma pergunta final: seria mesmo Bolsonaro um representante adequado de tudo isso? Ao que parece, as notícias deixam claro que não. Quanto a Deus, este indivíduo parece possuir apenas uma fé básica a qual pouco se ocupa em seguir (como comentei em minha obra anterior). Quanto à família, não só há evidências de que a única com a qual ele se preocupa é a dele (já indicado anteriormente), como também não parece ser o caso que alguém que está no terceiro casamento realmente dê tanto valor a isso. O mesmo vale para "pátria": embora afirme patriotismo, seu manifesto ódio por quase metade dos brasileiros, os esquerdistas, "Bolsolão" e outros sugerem que sua preocupação não é com a nação, mas tão somente consigo e com os seus.

4) A maioria dos pastores e grandes homens de Deus brasileiros apoiam Bolsonaro, então este é o candidato certo

A fraqueza desse argumento pode ser inferida à partir da crítica ao anterior onde demonstrei que Bolsonaro está longe de ser um "candidato do Cristianismo". Especificamente o problema é que ser pastor (ou "grande homem de Deus") não significa nada em questões políticas já que estes cargos (ou "status") não se relacionam com essas questões. Em outras palavras, na medida que os conhecimentos necessários para se tornar um pastor não envolvem os temas dos quais a política trata ou envolvem (tais como raciocínio crítico, filosofia e ciência política, história da política, sociologia e economia), é perfeitamente possível alguém ser um grande clérigo ou devoto e, ao mesmo tempo, ter as piores opiniões possíveis sobre esse assunto, algo que parece ser confirmado historicamente com os clérigos que apoiaram figuras políticas questionáveis tais como Hitler ou Hugo Chávez.

Conclui-se, portanto, que na medida em que ser um pastor ou "homem de Deus" não implica, pressupõe ou envolve praticamente nada de conhecimentos políticos ou capacitação para avaliar propostas e fatos da área, a opinião destes enquanto tais sobre quem é o melhor candidato é tão irrelevante quanto a de qualquer outro indivíduo que tenha formação em áreas não relacionadas à política (médicos, engenheiros, pedreiros e afins).

Jair Bolsonaro: Contrários

1) Ele é o culpado por mais de 670 mil mortes por Covid no Brasil, um genocida

Esta crítica apresenta problemas em vários níveis. 

Primeiro, ela parece sugerir que o evento de uma pessoa morrer ou não de Covid19 no Brasil estava (ou ainda está) inteiramente nas mãos do presidente, o que obviamente não é verdade. Ainda que um governante possa ter influência sobre questões de saúde (como vacinação e ações preventivas), há uma série de camadas que separam ou ligam alguém ao seu caixão: o vírus, as escolhas dessa pessoa, e daquelas ao seu redor, etc.. Ou seja, dizer que um certo indivíduo morreu de Covid "por culpa do presidente", como se ele tivesse puxado um gatilho, ausenta de responsabilidade toda uma gama de outros agentes que são tão ou mais responsáveis pelo resultado mortal. Na melhor das hipóteses, Bolsonaro pode ter parte da culpa sobre a morte de alguém.

Segundo, também é insensato dizer que o presidente exerceu influência sobre a morte de todos os que faleceram de Covid19 no Brasil (como que dizendo que ninguém teria morrido se outra pessoa tivesse sido eleita). Como o cenário mundial mostra, mesmo países muito mais cultural e economicamente capacitados que o nosso não deixaram de perder vidas. Além disso, naturalmente muitos brasileiros não deram a mínima pra qualquer fala ou ação errada que Bolsonaro tenha cometido durante o ápice da doença e muitos outros não foram afetados significativamente por alguma ação errada que tenha feito. A conclusão é que botar na sua conta todos os mortos não faz sentido, antes sendo mais plausível usar as estimativas da CPI da Covid que variam entre 120 a 400 mil vidas que poderiam ter sido poupadas tivesse o governo agido melhor.

Por fim, colocar todos os mortos pela pandemia na conta do presidente ignora que se tivéssemos tido qualquer outro vencedor nas eleições de 2018, provavelmente teríamos tido muitas mortes também. Novamente o cenário mundial e que inclui líderes mais capacitados e países mais preparados do que o nosso e ainda assim também tiveram muitas mortes demonstra que também teríamos tido um resultado infeliz, ainda que sensivelmente menor, independente de quem tivesse sido eleito.

2) Os números econômicos de Bolsonaro (PIB, inflação, etc.) são péssimos por sua culpa

Essa crítica falha por assumir a clássica falácia de "correlação não implica em causalidade": apenas porque dois dados aparecem andando juntos em algum gráfico não significa que um seja a causa do outro. De fato, raras são as vezes em que uma análise tão simplista consegue ser útil. O correto aqui é gastar um pouco mais de tempo analisando fatores circunstanciais, como os números eram antes do governo, comparando nossa nação às outras (da América Latina, BRICS, etc.) e observando as ações executadas nacionalmente para só então tirar conclusões sobre o que é culpa do governo e o que não é.

Fazendo isso, minha conclusão é que Bolsonaro e seu governo são parcialmente e gratuitamente responsáveis pelos números ruins que estamos enfrentando, mas não por tudo e tampouco pela maior parte (falo "gratuitamente" porque alguns dos erros cometidos foram totalmente evitáveis). Consideremos em lista alguns fatores que ajudaram e do qual ele não tem culpa:
  • PIB: seu governo pegou uma década perdida em andamento, a maior crise em 120 anos, criada pela gestão petista anterior;
  • Inflação: estando a ocorrer em vários e distintos países (Peru, Inglaterra, EUA, etc.), aumentou em muito por causa da pandemia, tanto pelo estrago que esta causou no setor produtivo como em decorrência das medidas financeiras de socorro, e da guerra na Ucrânia (especialmente sobre os combustíveis, que afeta boa parte da produção);
  • Desemprego: como a série histórica indica, entrou em alta graças ao governo petista (ou seja, já estava piorando desde antes) e aumentou em função da pandemia.
Agora consideremos alguns dos quais ele tem culpa:
  • Dólar: este tende a subir com a saída de investimentos do setor produtivo em busca de aplicações mais seguras, ação que é muito influenciada pela estabilidade política (nem todos querem arriscar seu dinheiro num país que pode "explodir" a qualquer momento). Assim, uma nação com um governo manifestando anseios golpistas e antidemocráticos, que é gerido aos ventos da pseudociência ao invés de cientificamente, que se vende politicamente pra afastar um possível merecido impeachment tenderá a ter fuga de capital em relação a um que é gerido decentemente;
  • PIB: um combate mais efetivo à pandemia, especialmente no que diz respeito a agilizar as vacinações e com mais pessoas envolvidas, teria feito nossa economia voltar à ativa mais rapidamente (o quanto pode ser difícil de mensurar e é plausível que não seria muita coisa);
  • Economia (geral): embora muitas vezes ignorado, vidas possuem valor econômico: pessoas são produtores, consumidores e transmissores de produtividade pras novas gerações. Consequentemente a morte de qualquer pessoa, em especial os mais produtivos, se traduz numa perda econômica para uma nação. Portanto, na medida que o governo foi responsável por mortes evitáveis na pandemia, essa perda econômica também entra na conta da sua culpa. Atualmente a vida de um brasileiro é estimada em 10 milhões de reais (adaptado de estudos americanos e de um artigo sobre o assunto que li e não mais achei). Se assumirmos o valor estimado menor de 120 mil pessoas que faleceram por erro da gestão Bolsonaro, se teria uma perda econômica de 1 trilhão e 200 bilhões de reais. Já com o valor maior, 400 mil, teríamos 4 trilhões perdidos por sua culpa.
Conclusão: Bolsonaro é parcialmente culpado pelos problemas econômicos atuais, mas está longe de ser o único e tampouco o maior.

3) Olhem nossos problemas; é tudo culpa do Bolsonaro

Trata-se de uma versão mais abrangente das críticas dos outros dois pontos, então o que foi dito lá vale também aqui. Apenas acrescento que ela falha por fazer uma análise cherry picking, a falácia de considerar apenas as partes que convém de uma narrativa e ignorar todas as demais. Ou seja, mesmo que todos os nossos problemas fossem mesmo culpa do presidente (e não são, como apontei nas respostas anteriores), ainda assim é errado querer fazer uma avaliação sobre votar ou não nele considerando apenas os seus erros; no mínimo, precisa-se também considerar e avaliar os seus acertos, tanto os "prós" quanto os "contras".

4) Ele/governo dele é corrupto como o Lula, então no que diz respeito a corrupção dá na mesma

O erro dessa crítica está em tratar a questão da corrupção como um "tudo ou nada" ignorando a questão da intensidade, da proporção. Corrupção e criminalidade não são apenas ruins por conta de alguma "estética moral" (o "é feio" que se diz para crianças), mas porque trazem consigo consequências negativas e que podem ser maiores ou menores dependendo do tamanho do erro cometido. Também na própria imoralidade há graduação: há diferença entre mentir uma vez e várias vezes, falar um discurso de ódio e assinar, etc.. Assim, acreditar que há corrupção em Bolsonaro e em seu governo e imediatamente equipará-lo ao Lula e à sua administração é inadequado: precisamos também considerar o quão corrupto um é em relação ao outro.

E é claro que a diferença aqui é gigantesca, ao menos considerando o que temos de informação. De um lado, fica difícil de negar que haja corrupção no atual governo: não só temos situações envolvendo outras pessoas, como o do recente caso do MEC, como também a questão das rachadinhas familiares e que já envolveram o presidente (afora corrupção não-criminosa, como usar a máquina do Estado para efetivamente comprar apoio político de algum grupo). Porém, mesmo considerando o pacote completo de erros, o governo Bolsonaro está longe de ter sido envolvido num poço fundo como o do "Petrolão", possivelmente o maior esquema de corrupção da história do Brasil. Também não há nada equiparável a tríplex e sítios envolvendo o presidente e isso já considerando as "rachadinhas" (que é peculato, não corrupção). Aqui juristas provavelmente acrescentariam que é questionável julgar alguém em definitivo sem que haja um processo formal para avaliar as alegações contrárias. Embora há evidências de crime da parte do atual presidente, a sua situação está longe daquela do Lula que chegou a ser condenado 2 vezes e em segunda instância. 

Como última observação, vale notar que tudo isso considera o que temos de informação até aqui. Pode muito bem ser o caso que Bolsonaro está envolvido num novo esquema de dimensões equiparáveis às do "Petrolão" e nós apenas não estamos sabendo; no caso do Lula e do PT, o segundo mandato do ex-presidente já tinha encerrado quando seus atos vieram à tona.

5) Ele é homofóbico/machista/etc.

Embora seja compreensível que algumas dessas características possam ser emocionalmente pesadas para muitas pessoas aceitarem, optar por não votar num candidato porque ele as expressa é inadequado porque tais posicionamentos têm pouco a dizer sobre a sua qualidade à presidência e sobre o que mais importa: o que o seu governo irá fazer de fato.

Um presidente poderia ser o mais homofóbico do mundo, expressando as opiniões mais ridículas, e contanto que ele não transpirasse isso em leis prejudiciais (como proibir união de pessoas do mesmo sexo), não há nada que gays tenham que se preocupar. Frases preconceituosas soltas e que não dão em nada não são nem um pouco relevantes diante das propostas, leis e decretos que um governo implementa, itens que devem pesar muito mais no processo de escolha. Ou seja: tais características negativas só são um problema real se há grandes chances de serem traduzidas em leis ruins, caso contrário deveriam ser ignoradas em favor aos atos realmente pretendidos. Assim, é preferível que um candidato verbalmente machista seja eleito e melhore a economia do que um feminista no discurso que afunda a nação deixando muito mais mulheres passando fome.

Além do mais, tal tipo de argumentação sugere um egocentrismo onde parece que o sujeito está a dizer que uma pessoa ou governo deve ser eleito não para o bem de toda uma nação (ou seja, para todos), mas para si próprio e o seu grupo tão somente. Todavia, esta perspectiva é inadequada já que os eleitos governarão para todos, tornando plausível que se procure eleger alguém que vai ser bom a todos. Exemplificando com religião, é melhor que se tenha um presidente ateu que desfavoreça religiosos enquanto melhora a economia do que um religioso que concede bonanças às igrejas enquanto afunda a nação em miséria.

Por fim, nota-se que há ao menos um mérito em tal observação, quando verdadeira: possuir essas características em pleno séc. XXI é evidência de limitação intelectual e moral e, naturalmente, é desejável que uma nação possua líderes com mente e coração saudáveis. Porém neste caso o problema não é o ser homofóbico ou machista em si, mas o ser um limitado, algo ruim que tais características evidenciam.

Lula: Favoráveis

1) Ele fez um bom governo, é só olhar os números

Mesmo assumindo que os números citados são verdadeiros (e nem sempre são), esta avaliação positiva é a versão contrária de algumas das críticas feitas a Bolsonaro já tratadas anteriormente e, consequentemente, está sujeita às mesmas observações que foram feitas para aquelas: 
  • Erra ao supor que correlação implica em causalidade;
  • Ignora fatores macroeconômicos (globais) e sua influência na economia nacional (como um período de alta no preço das commodities);
  • Ignora os feitos de governos anteriores (por exemplo, a implementação das três fases do Plano Real que permitiu que o PT governasse com as finanças em ordem);
e por aí vai. Ou seja, é a mesma análise simplista que possui pouco valor. Se o defensor do voto no petista deseja usar a economia como argumento, deve ser capaz de demonstrar que os atos do ex-presidente neste setor foram bons e não automaticamente responsabilizá-lo por tudo de economicamente positivo que ocorreu naquela época. E aqui a expectativa é que qualquer tentativa nesse sentido irá falhar: ao menos um estudo já foi feito demonstrando que o desempenho da era petista em questões econômicas esteve longe de ser surpreendente.

Lula: Contrários

1) Ele é comunista, sua eleição trará o comunismo ao Brasil

Assumindo uma definição formal do termo, essa afirmação não parece ser fundamentada em sequer uma evidência significativa: ele não se posiciona de tal forma e não há nada no seu governo anterior que sugeriu que fosse. Já quando se iguala comunismo a socialismo (duas coisas formalmente distintas, especialmente na ótica marxista), até pode-se sugerir que há sinais de socialismo fabiano já que ele é desenvolvimentista e defende a existência de estatais, mas nada de socialismo marxista é respaldado aqui (dizendo de outra forma, ele está longe de querer estatizar todos os meios de produção). Noto que a evidência que por vezes é apresentada, a das suas relações amigáveis com regimes socialistas, está longe de ser conclusiva já que é possível aprovar alguma coisa boa de um regime ideologicamente alinhado sem concordar com tudo que ele faz.

Porém mesmo que fosse verdade, isso não importaria muito uma vez que de nada adianta defender uma mudança estrutural em uma sociedade que não a permitiria. No máximo, tal inclinação poderia levar a defender alguma proposta pontual aqui ou ali, mas jamais viríamos a ter comunas governando a economia com a população que temos. Fazendo um paralelo, tem-se "Pepe" Mujica, o ex-presidente do Uruguai que é socialista declarado e não implementou nenhuma Cuba em seu país.

2) A eleição do Lula é uma ameaça ao exercício da fé cristã no Brasil

Essa crítica parece emanar de um medo pelo histórico de muitos governos esquerdistas como o da Coréia do Norte, China e a antiga URSS que se voltaram contra o Cristianismo. O que ela ignora é que nem todo esquerdista é antireligioso e que há vários governos dessa ideologia que nunca se opuseram ao culto cristão (ou seja, estão tratando alguns casos como regra geral).

Com isso em mente, é preciso se identificar qual é a situação específica de Lula e do PT: se estão mais pra uma Coréia do Norte ou uma Nova Zelândia. E aqui a situação parece bem clara: Lula é católico, muitos do seu governo e dos seus apoiadores também são religiosos e ele está a lidar com um dos países mais cristãos do mundo. Com tudo isso, seria uma ação completamente incoerente (e estúpida) se ele fizesse algo na direção de ameaçar a prática da religião no Brasil. Tal ação enfrentaria ampla rejeição não só da oposição, mas de sua própria base. 

Por fim, cabe notar que é difícil de imaginar como que o poder político poderia impor gratuitamente uma perseguição ao Cristianismo num país em que há quase uma igreja em cada quadra. Ou seja, o medo de perseguição parece bem infundado e esta provavelmente só ocorreria se a igreja errasse feio em sua missão evangelística.

Ambos: Favoráveis

1) Votarei nele porque fez algumas coisas boas

Este argumento costuma vir implícito quando apoiadores começam a listar meia dúzia de coisas positivas num governo ou na vida política de um candidato. Ele falha primeiro porque ignora o fato histórico óbvio de que praticamente todo governo faz "algumas coisas boas"; nem mesmo Hitler ou Stálin fizeram tudo ruim. Mas se praticamente todos os governos são iguais em "fazer algumas coisas boas", não faz sentido escolher votar em algum candidato em detrimento de outro por essa razão - afinal, se o outro for eleito, ele também fará "algumas coisas boas". Ou seja, ainda que verdadeiro, esta observação falha por ser pouco relevante e por não englobar um fato óbvio do processo de escolha: a de que esta deve ser conduzida pelas diferenças entre as opções e não por aquilo que é comum a elas.

Tendo isso em vista, se a ideia é olhar o histórico de alguém já presente na política (e visando uma reeleição em particular), o que deve ser contemplado é o excepcional tanto absoluto quanto relativo: se o governante fez algo bom que fosse difícil de ser feito, ou de grandioso benefício pra nação, ou se fez algo que seus adversários não teriam feito ou tampouco farão no futuro. Exemplificando com Bolsonaro, há pouco valor em ele não ter aprovado a descriminalização do aborto quando o PT não fez o mesmo em 13 anos de governo e dificilmente fará no futuro tendo em vista a presença de forte oposição nacional à essa mudança.

Além disso, este argumento também falha porque é imperativo que se considere as coisas excepcionalmente ruins que um governo fez: de pouco adiantará algumas coisas boas de um lado e uma avalanche de problemas do outro (sendo que o mesmo que foi dito antes vale aqui: todo governo tende a errar em algum momento, então o que conta é o excepcional seja em quantidade ou gravidade). Dessa forma, não adiantará muito os governos de Bolsonaro ou Lula terem feito algumas coisas boas se estas são contrapostas por grandes erros (digamos: má gestão numa pandemia levando a milhares de mortes em excesso, um "Petrolão", etc.).

2) As alternativas melhores não tem chance, então terá que ser ele mesmo

Este argumento comum e que implica no chamado "voto útil" talvez seja o mais controverso em minha lista. De fato, algumas pessoas podem achar que seu pragmatismo é sábio e talvez até queiram apelar a alguma "teoria dos jogos" para justificá-lo (ou sugerirem que não deveria ser considerado entre os "piores" argumentos, ainda que seja ruim, dada a sua ampla aceitação).

Porém sugiro que isso não procede; o voto útil, talvez salvo exceções muito específicas, me parece um caso claro de estupidez no sentido técnico do termo: uma ação que acaba por prejudicar tanto os outros quanto a si mesmo. 

Para visualizar isso, consideremos um exemplo envolvendo as últimas eleições presidenciais. Os 3 candidatos mais votados do primeiro turno (Bolsonaro, Haddad e Ciro Gomes) receberam respectivamente 46,03% (49.276.990), 29,28% (31.342.005) e 12,47% (13.344.366) dos votos. Para ser eleito já naquela fase, era necessário ter 50% mais um voto. Como foi noticiado, boa parte dos eleitores de Bolsonaro escolheram ele não porque o consideravam como a melhor opção, mas pra evitar o PT, e assim também boa parte dos que votaram neste estavam querendo evitar que Bolsonaro ganhasse já no primeiro turno. Suponhamos que 50% de cada um era de votos úteis e que cada um destes preferiria votar no candidato de seu lado político (direita e esquerda) imediatamente mais abaixo: João Amoedo do Partido Novo para os direitistas, com 2,5% (2.679.744), e Ciro para os esquerdistas. Neste caso, se ninguém tivesse feito voto útil, o resultado final daquele primeiro turno teria sido:
  1. Ciro (esquerda): 29.015.368
  2. Amoedo (direita): 27.318.239
  3. Bolsonaro (direita): 24.638.495
  4. Haddad (esquerda): 15.617.002
Ou seja, se os assumidos 50% de "eleitores úteis" tivessem realmente apostado nos candidatos que preferiam e assumindo que estes seriam os seus representantes ideológicos mais próximos, estes é que teriam ido pro segundo turno. 

É claro que estes cálculos são simbólicos e talvez não representem a realidade dos votos úteis naquela ocasião, porém são suficientes em mostrar como estes podem ser contrários ao desejos do eleitor que o pratica. Essa situação também se agrava quando se leva em consideração as consequências do índice de rejeição: naquele ano, é possível que muitos dos que votaram em Haddad preferiam o Amoedo, porém acabaram indo pro outro lado do espectro político apenas por não aturarem Bolsonaro. Assim, pode-se dizer que cada voto a mais num candidato com muita rejeição implicará em mais votos para a pior alternativa do outro lado.

A conclusão aqui é: se os outros estão errando, não temos porquê errar também. Se num primeiro momento a maior parte das pessoas de uma ideologia está convergindo pro pior candidato desta, não há porque entrar pra manada e engrossar o caldo da má escolha acabando por tornar-se cúmplice do resultado final.

Ambos: Contrários

1) Ele é uma pessoa ruim por x motivos e eu não voto em gente ruim

Embora eu diria que a observação em si é correta para ambos os candidatos, essa crítica falha por ignorar um ponto óbvio em qualquer eleição: quando se vota em alguém, não se está a colocar no poder apenas ele, mas todo um grupo de pessoas, todo um governo. Uma vez que uma chapa é eleita, são vários os que passarão a conduzir a nação pelas três esferas estatais: do lado do Executivo, haverá tanto o presidente como ministros e auxiliares; no Legislativo, o primeiro costuma ter muita influência (como exemplifica a eleição de Arthur Lira pra presidência da Câmara dos Deputados com o apoio do governo, "Mensalões" e "Bolsolões"); por fim, as eleições desaguam até no Judiciário já que as indicações para membros da PGR e do Supremo vêm do Executivo (como evidencia a presença no STF do juiz André Mendonça, indicação de Bolsonaro).

A conclusão, portanto, é que é errado escolher uma opção eleitoral tão somente com base na pessoa encabeçando a corrida; antes, toda a equipe que há de ir com ele deve ser analisada. Por isso, é perfeitamente plausível que se vote num candidato inferior que levará uma boa equipe ao Planalto e uma boa influência pras demais esferas do poder do que um candidato melhor, mas que trará consigo um grupo ruim.

Comentários finais
Como sugeri anteriormente, os argumentos abordados são ruins e cometem erros básicos de avaliação e escolha (salvo, talvez, o do voto útil). E também como já foi dito, essa evidente má qualidade sugere uma certa "preguiça de pensar" da parte dos que justificam seus votos com eles. Porém, enquanto essa hipótese tem seus méritos, é provável que não explica todos os seus usos. Afinal, diferentes pessoas muitas vezes fazem a mesma coisa por diferentes razões. 

Com isso em mente, finalizo esse texto sugerindo outras duas hipóteses para explicar o uso dessas justificativas. A primeira é que o nível educacional de muitos brasileiros é ruim, um provável fruto tanto da falha do sistema educacional brasileiro em ensinar raciocínio crítico quanto de desinteresse cultural. Em outras palavras, muitas pessoas não são ensinadas a como pensar direito e tampouco estão interessadas em aprender. Já a outra hipótese é que tais argumentos são expressos não por pessoas que realmente acreditem neles, mas como simples desculpas de fachada para justificar um voto que estará a ser feito por outras razões: seja porque o partido ou candidato defende seus interesses egocêntricos, seja por qualquer outro motivo suficientemente ruim para ser mantido em oculto. 

Seja qual for a verdadeira razão em cada caso, um fato permanece: dada a importância que os governos têm em influenciar a qualidade de vida dos cidadãos, não era para estes votarem por razões ruins.